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Matéria escrita por MURRAY STASSEN e traduzida por Izabel Muratt.

Na segunda-feira (2 de novembro), o Spotify revelou que em breve testará uma nova ferramenta polêmica chamada ‘Modo Descoberta’, que permitirá que artistas e gravadoras influenciem as músicas selecionadas para recomendações personalizadas.

O ‘Modo Descoberta’ permite que uma gravadora ou artista identifique uma faixa que deseja priorizar, e então a mesma aparece na reprodução automática dos ouvintes ou em seus feeds de rádio.

Artistas e gravadoras não são obrigados a pagar nada adiantado por isso, mas ao optarem por esse modo, eles concordam em receber uma taxa mas baixa de royalties por streaming nessas sessões personalizadas (em rádio e reprodução automática). Eles podem cancelar a opção, e quando o fizerem, a faixa continuará a ser reproduzida no rádio e na reprodução automática do usuário, porém não será mais priorizada e os artistas e gravadoras obterão a taxa de royalties por streaming no valor padrão para esses streams. Um anúncio da empresa sugerindo que os artistas podem escolher receber menos por streams, para que suas faixas sejam reproduzidas em feeds personalizados, não poderia ter vindo em pior hora para o Spotify, diante de sua reputação entre a comunidade artística.

Na semana passada, o Spotify recebeu uma carta aberta do Sindicato dos Músicos e Trabalhadores Aliados exigindo um melhor pagamento e alegando que a plataforma de streaming “incentiva gravadoras e empresas de gerenciamento a pagar por plays na plataforma”.

“A prática equivale ao jabá”, acrescentou a carta. “É inaceitável e deve acabar.”

Sem surpresa, o 'Modo Descoberta' imediatamente gerou críticas dos artistas. David Lowery, por exemplo, sugeriu por meio de um tweet que “Esta é uma forma de jabá ou postagem patrocinada na mídia social. Não é necessariamente ilegal, mas as faixas precisam ser rotuladas como tal.” Será o 'Modo Descoberta' uma forma de jabá, ou apenas uma forma de “dar aos artistas o poder de fazerem suas músicas serem descobertas?" Aqui estão três coisas que você deve saber sobre o novo serviço:

1) O SPOTIFY JÁ PROPORCIONA 16 BILHÕES DE DESCOBERTAS DE ARTISTAS TODOS OS MESES ... E DIZ QUE OS ARTISTAS DEVEM TER O PODER SOBRE O QUE OS FÃS PODEM DESCOBRIR.

O Spotify afirma que proporciona 16 bilhões de descobertas de novos artistas todos os meses.

Como a empresa explicou em postagem no seu blog anunciando o 'Modo Descoberta', isso significa que 16 bilhões de vezes por mês, os 320 milhões de usuários mensais do Spotify ouvirão um artista que nunca ouviram antes na plataforma.

A postagem do blog acrescenta que o Spotify está "refinando ativamente [seus] algoritmos para permitir, a cada mês, ainda mais descobertas de novos artistas para seus usuários.”

Já sabíamos disso, é claro, depois de descobrir que o Spotify realizou pesquisas sobre o rastreamento da personalidade de seus ouvintes para fins de personalização. No mês passado, foi concedida uma patente nos Estados Unidos apenas para esse tipo de tecnologia. “[Artistas] devem estar no comando do seu sucesso no Spotify, para que possam estar no controle de suas carreiras, por isso, criamos uma oportunidade dentro da nossa recomendação personalizada. CHARLETON LAMB, SPOTIFY

Mas, de acordo com o Spotify, os artistas também devem ter o poder de influenciar na seleção de músicas feitas pelo algoritmo da plataforma, para as opções de escuta personalizadas.

Falando ao MBW (Music Business Worldwide) na segunda-feira, o líder de marketing de produto do Spotify, Charleton Lamb, disse: “Falamos com artistas o tempo todo, e eles nos dizem que querem mais oportunidades de se conectarem com seus fãs, mesmo fora da semana de lançamento de um novo trabalho, e especialmente, com seu catálogo de músicas . ”

"[Artistas] devem estar no comando do seu sucesso no Spotify, para que possam estar no controle de suas carreiras, por isso, criamos uma oportunidade dentro da nossa recomendação personalizada. As recomendações do Spotify são ótimas e é uma das coisas que torna o Spotify ótimo, porque estamos levando em consideração milhares de sinais, [como] o que você está ouvindo, [e] quando, e quais músicas estão sendo adicionadas às playlists."

Ele acrescentou: “Todos esses sinais criam uma experiência de audição sob medida para cada fã. Nossos algoritmos são focados, eles são precisos, mas recomendar uma música não deve ser apenas sobre o que nosso algoritmo pensa que você quer ouvir. Com esta ferramenta, vamos tornar os artistas uma parte maior nesta recomendação."

“Eles podem estar pensando de forma mais estratégica sobre o aniversário de um álbum, ou se estão vendo momentos culturais virais decolar, mas querem capitalizar, no Spotify. Ou qualquer outro tipo de estratégia de marketing que eles possam trabalhar com sua equipe. Então, a ferramenta colocará mais controle nas mãos de artistas e gravadoras. ”

2. ISSO CUSTARÁ ROYALTIES PARA ARTISTAS E GRAVADORAS - MAS O SPOTIFY DIZ QUE PODERIAM VER UM "ROI POSITIVO"

O Spotify explicou em sua postagem no blog que o Modo de descoberta "não exigirá nenhum pagamento inicial" e, em vez disso, as gravadoras e os detentores de direitos deverão concordar em receber uma taxa de royalties por streaming mais baixa para músicas sinalizadas para serem tocadas em sessões personalizadas.

Charleton Lamb do Spotify disse à MBW que a razão para isso era porque a empresa "queria ter certeza de que a ferramenta fosse acessível a artistas de qualquer tamanho, em qualquer estágio de sua carreira".

“Não estamos pedindo nenhum orçamento ou pagamento inicial, o que significa que não há barreiras para entrar”, acrescentou. “Estávamos procurando um modelo que fosse mais acessível, democrático e justo, então não vamos pedir a nenhum artista que gaste dinheiro.”

O Spotify não poderia pedir a artistas ou gravadoras que gastassem dinheiro na promoção de faixas antecipadamente: em primeiro lugar, isso geraria acusações de jabá; em segundo lugar, inserir conteúdo pago para assinantes Premium desafiaria a promessa para este público de ouvir músicas sem "interrupções de anúncios".

Spotify enfatiza que esta taxa de royalties promocional só será paga para streams em Rádio e Autoplay, os locais onde o Spotify está fornecendo seu serviço de Modo Descoberta, e que os streams fora desses formatos não serão afetados.

“Se a faixa está indo bem, os detentores dos direitos podem ver o ROI positivo e, se não, podem apenas desligar a ferramenta e voltar ao normal."

A MBW perguntou ao Lamb do Spotify como a taxa de gravação promocional foi calculada. Ele nos disse que “é algo em que ainda estamos testando, mas nosso objetivo e nossa intenção é que os artistas e gravadoras possam obter um ROI positivo usando a ferramenta”.

Lamb acrescentou: “Se a faixa tiver um bom desempenho, os detentores de direitos podem ver um ROI positivo e, se não o fizerem, podem simplesmente desligá-la e voltar ao normal. [É um] modelo que permite ao menor artista [agir], nos mesmos termos de uma grande gravadora, sujeito a como os ouvintes estão respondendo. ”

O investimento ao qual ele está se referindo é, claro, o pagamento da taxa de royalties por stream. O "retorno" é o potencial que a faixa priorizada tem para ser ouvida fora do Rádio ou Reprodução Automática, onde receberá uma taxa de royalties padrão por stream.

“A satisfação do ouvinte é o mais importante. É realmente o que importa aqui. E sempre vamos recomendar conteúdo que os ouvintes querem ouvir ”, continuou Lamb.

“Se as músicas não tiverem um bom desempenho, elas serão retiradas automaticamente. Por causa disso, não garantimos posicionamento das músicas nem para gravadoras nem artistas e apenas recomendaremos coisas que achamos que um determinado ouvinte possa querer ouvir.”

Lamb também disse que o Spotify planeja “calibrar [o serviço] para garantir que um maior grupo de artistas e gravadoras seja capaz de ter sucesso."

3) A EXPERIÊNCIA DO MODO DESCOBERTA ESTÁ COMEÇANDO COM RÁDIO E AUTOPLAY - MAS PODE SER EXPANDIDA PARA OUTRAS ÁREAS NO SPOTIFY.

O Spotify afirma que, embora inicialmente se concentre apenas na aplicação de recomendações por meio do "Modo Descoberta" para Radio e Autoplay, ele irá “testar cuidadosamente a expansão para outras áreas personalizadas do Spotify” conforme eles aprendem com 'este experimento'."

A razão para escolher essas duas áreas inicialmente, explicou Lamb, acontece pelo fato de que elas são “onde os ouvintes estão realmente interessados ​​em descobrir."

Ele acrescentou: “Esses são os lugares para os quais os ouvintes vão. Eles querem ouvir música que soe como o que eles gostam, mas diferente e é aí que estamos conduzindo muitas dessas atividades. Achamos que seria um lugar muito bom para começarmos a aumentar as chances desse tipo de descoberta acontecer.”

O Spotify não especificou exatamente as outras áreas onde o Modo Descoberta pode ser testado a seguir. Mas se, para fins de argumentação, fossem as playlists Feita Para Você personalizadas do Spotify, poderiam ser levantadas questões sobre o quão ético seria permitir que uma grande gravadora que pode pagar uma taxa de royalty por stream mais baixa, influencie o que vai para essas playlists. E se essas gravadoras estavam efetivamente pagando para ganhar participação de mercado.

"Neste momento não estamos oferecendo a opção de segmentação de público para a ferramenta [Modo Descoberta].”

Lamb insistiu que as gravadoras não serão capazes de direcionar os ouvintes com base em coisas como gênero preferido, andamento ou quaisquer outros dados de audição. “No momento, não estamos oferecendo um componente de segmentação para a ferramenta”, diz ele. “Isso tudo seria tratado automaticamente pela forma como o algoritmo é otimizado para nossos ouvintes.”

Além disso, o Modo Descoberta é conhecido como um "teste" e um "experimento", mas a postagem do blog do Spotify não especifica quando será lançado como uma ferramenta permanente para artistas e gravadoras.

Quando falamos com Lamb, ele explicou que o Spotify irá “olhar os dados” para determinar isso. “Estamos começando assim apenas para ter cuidado e ter certeza de que somos capazes de entregar essa ótima experiência para ouvintes, artistas e gravadoras,” disse ele.

“Estamos começando com apenas alguns parceiros-chave agora. Mas, como fizemos com nossas outras ferramentas, é nossa intenção disponibilizar a todos os artistas e gravadoras e faremos isso assim que formos capazes de fazê-lo com responsabilidade."


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Atualizado: 12 de nov. de 2020

(Essa matéria foi escrita por Beatriz Miranda e traduzida por Izabel Muratt)


Foto: Reprodução The Guardian - Fotografia por: Kadu Xukuru

 

Um vibrante cenário underground de rap, metal, folk e muito mais está prosperando entre as tribos em guerra do Brasil, que estão enfrentando as políticas ambientais de Bolsonaro.

Enquanto a biodiversidade mundialmente aclamada do Brasil se transforma em cinzas, o presidente Jair Bolsonaro elogia o país como um modelo ambiental. “Não é só na preservação do meio ambiente que o país se destaca”, afirmou o dirigente de extrema direita em discurso na ONU no dia 22 de setembro. “No campo humanitário e de direitos humanos, o Brasil também tem sido referência internacional.”

Ao mesmo tempo, o New York Times informou que uma equipe de advogados brasileiros está redigindo uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional de Haia com o objetivo de levar Bolsonaro a julgamento por crimes contra a humanidade, por remover as proteções ambientais para os povos indígenas. Bolsonaro não respondeu, mas disse: “Onde há terra indígena, há riqueza por baixo” e em fevereiro propôs um projeto de lei para legalizar a mineração em terras indígenas.

Em abril, a Fundação Nacional do Índio (Funai) - que tem como missão a defesa dos povos indígenas - legalizou a ocupação de terras rurais em 235 áreas indígenas. Em julho, as comunidades indígenas amazônicas viram um aumento de 76% nos incêndios ilegais em suas terras em comparação com o mesmo mês de 2019 e, de acordo com a organização de direitos indígenas APIB, o coronavírus foi três vezes mais letal para os povos indígenas do que para o resto do país.

Portanto, em meio aos perigos e às violações de seus direitos negligenciados, os indígenas estão se posicionando - com música. Um cenário antigo, ainda pouco conhecido entre o público não indígena, está ganhando visibilidade com letras e vídeos que abordam o alegado ecocídio e etnocídio do Brasil. Ao unir música ancestral e urbana com tecnologia, os músicos indígenas estão defendendo a si mesmos e lutando por sua existência.

Quando o presidente assumiu o cargo, a cantora e compositora Kaê Guajajara temeu que ela “fosse morrer” por conta de suas ações hostis e retóricas. Kaê pertence à etnia Guajajara, localizada na parte amazônica do estado do Maranhão, no nordeste do Brasil. Unindo hip-hop, instrumentos tradicionais e elementos de sua língua materna Ze’egete, Kaê faz música sobre a realidade dos povos indígenas urbanizados e o apagamento das identidades indígenas.

“Não consegui emprego por causa das pinturas indígenas na minha pele”, diz Kaê. “Estar na cidade, andar na rua como eu sou, já é um ultraje. Minha música comunica minha realidade: metade de mim é uma tribo indígena, a outra metade é a cidade.” Ela cresceu no complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, tendo deixado o Maranhão aos sete anos porque as condições de vida de sua mãe não eram, segundo ela, diferentes da escravidão. A terra de origem de sua mãe não é demarcada (processo que garante aos indígenas o direito já constitucional de possuir suas terras, tornando-as menos vulneráveis ​​à mineração e extração ilegal de madeira). “Minha família maranhense se preocupa mais em ter comida na mesa do que em reivindicar a demarcação de terras”, afirma.

Enquanto o trabalho de Kaê evoca hip-hop, ela foge dos rótulos. Um exemplo brilhante é a música Essa Rua É Minha, que funde o funk carioca com a flauta indígena; seu segundo EP, Wiramiri (passarinha, em Ze'egete) gira em torno de autocuidado, amor-próprio, resistência indígena e a pandemia de coronavírus.

Kaê não descarta assinar com uma grande gravadora, desde que continue cantando sobre a causa indígena: “Tenho medo de me embranquecer. Tenho que ter cuidado para manter minhas raízes e cumprir minha missão: me infiltrar em estruturas de poder que dizem que os povos indígenas não existem mais.” Suas canções já estão sendo utilizadas como material didático por dezenas de professores. A perspectiva sociopolítica que impulsiona a música de Kaê se conecta com um movimento cultural recente que ganhou popularidade entre os artistas indígenas urbanos, conhecido como futurismo indígena. Kaê diz que se trata de “ousar nos imaginar no futuro e usar novas tecnologias para aumentar a visibilidade indígena.”

O termo foi cunhado em 2012 pela Dra. Grace Dillon da Portland State University, que é descendente do povo Anishinaabe do Canadá e dos Estados Unidos. De acordo com Klaus Wernet, etnomusicólogo da Universidade de São Paulo, também foi por volta de 2012 que as comunidades indígenas do Brasil começaram a comprar smartphones e construir “parcerias musicais estratégicas” via WhatsApp e mídia social. A jornalista Renata Tupinambá, cofundadora da rádio indígena Yandê, que ajudou a organizar o festival Yby - o primeiro do Brasil para a música indígena contemporânea - afirma que o futurismo indígena usa a tecnologia para fazer “arte, música e literatura ferramentas de sobrevivência cultural. Isso desafia a mentalidade racista de que os povos indígenas estão presos no imaginário colonial do século 16.”

Mas nem todos os artistas indígenas abraçam o conceito. Um dos rappers indígenas mais proeminentes do Brasil é Kunumi MC, de 19 anos, um nativo do povo Guarani - que se espalha pelo sul do Brasil, Paraguai, leste da Argentina e outros lugares - de Krukutu perto de São Paulo. A música de Kunumi não poderia ser mais moderna - um de seus últimos sucessos combina trap, reggaeton e violino indígena para lidar com a demarcação de terras e o desmatamento - mas ele vê o futurismo indígena como um termo dos brancos. “Nós, indígenas que vivemos em tribos, não pensamos no futuro”, diz ele. “O homem branco tem uma visão de progresso, não nós. Nosso progresso é preservar nossa cultura... para viver no presente, tenho que lembrar meu passado.” Para ele, as tecnologias mais importantes são “comida sagrada, remédios, meu rap”, e não smartphones. A realidade Guarani contrasta profundamente com a de São Paulo. Mesmo antes da pandemia, Kunumi dificilmente saía da floresta porque, na cidade, ele se sente “um estranho”. “Temos medo da cidade - da poluição; das doenças espirituais e físicas.” De acordo com Kunumi, metade de sua tribo Krukutu (cerca de 150 pessoas) foi infectada pelo coronavírus.

Fã de Michael Jackson, e fazendo rap desde os 10 anos de idade, o ativismo de Kunumi ganhou força após a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, onde ele se manifestou com um cartaz escrito "Demarcação de terras agora!" no meio do estádio de futebol. Kunumi canta em guarani para contar a história de sua ancestralidade: “Eu canto a verdade do meu povo. Minha música é um protesto contra tudo o que está acontecendo agora aos povos indígenas no Brasil.” Ele diz que os recentes ataques do governo de Bolsonaro o inspiram a ser mais forte.

Tendo gravado com o celebrado rapper brasileiro Criolo, Kunumi é cético em relação ao ativismo de músicos que se autodenominam indígenas: “Eles não ajudam muito a causa. Eles cantam a luta, mas nós, que vivemos nas tribos, somos os que mais sofrem.”

Um desses músicos, Juão Nyn, entende o que Kunumi quer dizer: “Acho que faz sentido. Mas a violência que o povo indígena nativo está experimentando agora é a mesma violência que meus ancestrais experimentaram no passado. Meu dever, como um artista indígena urbanizado, é evitar que os povos indígenas nativos experimentem esses silenciamentos.” Filho de pai potiguara, Nyn nasceu no Rio Grande do Norte, único estado brasileiro sem a demarcação de terras indígenas - embora este estado abrigue pelo menos 14 comunidades autodeclaradas indígenas. O medo de que o resto do Brasil se transforme no Rio Grande do Norte - estado que Nyn diz ser “mais obsoleto que o próprio passado” devido à sua violência histórica contra o povo Potiguara - é o que o inspira a resgatar a memória indígena por meio da música: “É possível reivindicar a demarcação de terras se não demarcarmos primeiro nossos imaginários com herança indígena?”

Ativista dos direitos LGBTQIA+ radicado em São Paulo, Nyn é o fundador da banda Androyde Sem Par, que mistura estilos pop e rock em canções com inflexão guarani sobre diversos relacionamentos amorosos e ancestrais indígenas. Enquanto Nyn teme que o termo futurismo indígena possa ser uma "armadilha colonial", ele acha que os artistas indígenas contemporâneos estão fazendo uma mudança ao "resgatar tradições para reinventar culturas impostas".

Antes da nossa entrevista, a musicista Djuena Tikuna nunca tinha ouvido falar do futurismo indígena, mas sua música, ela afirma, é também uma arma de descolonização, “uma reivindicação de respeito aos povos indígenas”. Ela pertence à etnia Tikuna amazonense e reúne sonoridades amazônicas e referências musicais globais. Já foi indicada aos prêmios de música indígena e foi a primeira artista indígena a se apresentar na suntuosa sala de concertos do Teatro Amazonas, símbolo da colonização portuguesa em Manaus.

Atualmente trabalhando em A Floresta Cura, uma música sobre a pandemia do coronavírus, Tikuna também é jornalista cobrindo os direitos indígenas - “O jornalismo me ajudou a entender como ajudar outros músicos indígenas e fazer nossas vozes ecoarem” - e fundou o primeiro Festival de música indígena da Amazônia em 2018. “Quero que essa mensagem seja entendida independentemente das barreiras linguísticas”, diz ela, chamando sua música de “um ato de resistência”.

O autodenominado músico indígena Zândhio Huku, vocalista da banda de heavy metal Arandu Arakuaa, também vê a música desta forma: “Não estou na linha de frente, gritando ou discutindo. Mas minha música ressoa uma mensagem política.” Descendente da etnia Krahô e natural do Tocantins, Zândhio escreve nas línguas Xavante, Xerente e Tupi, e suas letras retratam “cosmovisões” indígenas, onde a natureza é a verdadeira razão de ser. “Você só entende a luta indígena se tiver sua visão de mundo, que entrelaça a natureza e o sagrado.”


Em setembro, a banda lançou o videoclipe de Am’mrã (Estrela Cadente), uma música sobre a conexão entre a natureza e as culturas indígenas. Misturando percussão indígena e afro-brasileira com violão, o clipe foi lançado no mesmo dia em que oito nações europeias alertaram o Brasil para tomar medidas contra o desmatamento na Amazônia.

Por uma década, o desmatamento na Amazônia não tinha sido tão escandaloso como em agosto, quando a floresta tropical perdeu uma área próxima ao tamanho de Londres. Enquanto isso, o Pantanal sofreu neste ano os piores incêndios florestais de sua história, que consumiram uma área tão grande quanto a Bélgica. Mas as autoridades aplicaram menos multas por violações ambientais em 2020 do que em qualquer outro ano na última década.

“Nosso país está dividido entre aqueles que defendem viver bem e aqueles que querem roubá-lo de nós. Estes querem impor a maneira como vivemos, oramos e morremos”, afirma Kaê Guajajara. Para esta cantora indígena criado na favela, só há uma saída: “O Brasil só pode se tornar independente com um presidente indígena, que vê a natureza e o homem como um só ser.”

Mais artistas indígenas brasileiros para descobrir

Cantora e compositora Tikuna. Misturando instrumentos tradicionais, como o pau-de-chuva, com violino e violão, sua música fala sobre amor, respeito à natureza e união das pessoas.

Cantor e compositor que faz funk brasileiro sobre o jeito Kayapó de amar e viver.

Rapper lésbica Bororo cujas canções denunciam os ataques e os estereótipos contra os povos indígenas no Brasil.

Descendente do povo Mapuche, do Chile, Brisa Flow experimenta rap, neo-soul e música eletrônica para discutir a liberdade feminina, o racismo e a ancestralidade indígena.

Artista Guarani considerado o pioneiro da música trap indígena no Brasil, cujas canções retratam o jeito Guarani de ser.

Primeiro grupo de rap indígena de São Paulo, formado por Xondaro MC, Gizeli Para Mirim e Mirindju Glowers. Nas línguas portuguesa e guarani, fazem rap sobre demarcação de terras e resistência indígena.

Influenciado pela música popular, tradições do Nordeste brasileiro e culturas musicais indígenas, este artista pertence ao povo Pankararú. Sua música é sobre a política brasileira e os direitos dos povos indígenas.

DJ e produtor musical de ascendência indígena, nascido na capital amazonense Manaus e criado na Itália, Nelson D experimenta texturas de música eletrônica e culturas sonoras indígenas.

• Este artigo foi alterado em 26 de outubro de 2020 para esclarecer que a jornalista Renata Tupinambá é cofundadora da rádio indígena Yandê, que ajudou a organizar o festival Yby, e para corrigir a história de Katú Mirim, que é Bororo, não Guarani como antes declarado.


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Foto do escritorIsis Correia

Na última semana, a Treinam deu seus primeiros passos para além do cercadinho em que suas mães a gestaram nos últimos meses e agora, com duas aulas já no ar, ela passa ser a NOSSA Turma Remota de Ensino Intensivo para Artistas Mulheres. Agora, além das sete mentoras e as professoras convidadas, vinte e cinco garotas formam a família da Treinam que recebeu as bênçãos de duas madrinhas especiais: Lio e Lay, as duas meninas superpoderosas à frente do fantástico trio Tuyo.





Ficou nas mãos das duas cantoras curitibanas conduzir boa parte da aula magna da Treinam e, com palavras poderosas, conseguiram retratar o muito, não só da vida de uma mulher como profissional da música, como da vida de ser mulher, e, sem dúvida alguma,  inspiraram a turma com ideias firmes, afetuosas e corajosas. E o primeiro legado materializado das duas foi inspirar as alunas a nomearem a playlist oficial da Treinam justamente com uma das frases de impacto deixadas: “Elas têm pressa!”.



Depois das reflexões deixadas por Lio e Lay, foi a vez de começar para valer as aulas e o pontapé inicial ficou a cargo de Aryane Sánchez, mentora do módulo Gestão de Carreira. Ary apresentou a análise SWOT (ou análise FOFA!), importante fórmula utilizada no mercado para nos conduzir ao autoconhecimento em busca de nossas fraquezas e também fortalezas rumo ao caminho certo para a carreira e porque não, a vida. A turma Treinam ainda ganhou uma consulta individualizada com a professora pós-aula.


Na sequência, Izabel Muratt conduziu a aula sobre Produção Artística e Panoramas das Carreiras do Mercado da Música com falas e material ricos e ilustrados que expuseram em detalhes a função que dezenas de profissionais desempenham no mercado musical como o booker, os diversos tipos de produtores, empresárie e outros mais. A aula foi seguida de atividade para oferecer um bom gostinho das belezas e dificuldades de produzir-se na carreira ou conduzir uma.  


Agora, é “sem tempo, irmãs”! A turma Treinam tem pressa e as aulas e atividades seguem o fluxo até dezembro!

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