(Grassroots … performers at a Swim event. Photograph: Wandern Media)
(Essa matéria foi escrita por Kate Solomon e traduzida por Izabel Muratt) A indústria da música finalmente age na saúde mental dos artistas Novas iniciativas como "Girl & Repertire"e "Swim"estão ajudando jovens - particularmente mulheres - a derrubarem o mito da artista torturada. Em 2016, Lauren Aquilina lançou seu primeiro álbum. No mesmo dia, ela deixou a indústria da música, jurando nunca mais voltar. A pressão da fama crescente, a solidão da indústria para cantoras pop jovens e as intermináveis reuniões cheias de gente (majoritariamente homens) com o dobro da sua idade, atropelando a sua fala, haviam afetado a sua saúde mental e a única forma dela pensar que poderia se recuperar era indo embora sem olhar para trás. Agora, ela espera renovar a abordagem da indústria no cuidado mental, por meio de um novo grupo comunitário e sistema de apoio independente, Girl & Repertoire. "Este tipo de comunidade teria feito toda a diferença para mim", diz Aquilina. Ela cita a falta de mulheres como uma questão fundamental em suas próprias experiências, e espera agora prover a presença de uma "irmã mais velha" para artistas jovens. "É algo que eu nunca tive quando eu tinha 16,17 e é algo que poderia ter mudado o caminho de toda a minha carreira."
Aquilina representa o lado artístico de Girl & Repertoire, ideia de Georgie Willmore, cuja própria experiência de trabalhar numa gravadora aos 18 anos de idade a inspirou a melhorar a experiência de jovens mulheres que estavam ingressando na indústria após ela. "Fiquei chocada quando comecei a descobrir que outras garotas ao meu redor ficariam caladas se alguém as tratassem mal", diz Wilmore. "Porque nenhuma destas garotas se sentiram empoderadas e fortes o bastante para se levantar e se posicionar?" Ela reconhece, porém, que houveram consequências quando ela mesma se posicionou. “Me fez ser vista com maus olhos. As pessoas achavam que era polêmico que a jovem estagiária dissesse: ‘Você não pode fazer isso’ para algum grande executivo sênior." A indústria da música tem enfrentado uma lenta avaliação do nível de cuidado que seus jovens funcionários e artistas recebem. Little Mix recentemente confirmaram que não receberam nenhum cuidado após terem vencido o programa "X Factor" em 2011 e foram empurradas para o status da lista A de artistas. Cada membro teve problemas de saúde mental, desde ao terem que lidar com racismo e bullying nas redes sociais até ansiedade e depressão severa. "Nunca tivemos alguém para saber como estávamos mentalmente, era só vai, vai vai. Pessoalmente, não sinto que alguém se importasse ”, disse Jesy Nelson ao Radio Times.
Incidentes trágicos levaram a uma análise minuciosa de como as gravadoras em particular cuidam dos artistas; rappers como Lil Peep, Mac Miller e Juice WRLD morreram nos últimos anos vítimas de overdose do abuso de drogas, enquanto a estrela da dance music Avicii morreu em 2018 de ferimentos auto infligidos. Em um comunicado, sua família o descreveu como "uma alma artística frágil" e disse que o ritmo com que ele trabalhava "o levou ao estresse extremo...Tim não foi feito para a máquina de negócios em que se encontrou."
Essa máquina de negócios é dirigida por gravadoras, muitas vezes grandes empresas que demoram a mudar, mas há sinais de que o bem-estar do artista é uma prioridade maior agora do que nunca. Peter Robinson, que ensina artistas sobre como navegar pela vida dentro e fora dos olhos do público, enfatiza a necessidade de apoio desde o início até o fim da carreira (potencialmente curta) de um artista. “É cada vez mais parte da conversa nas gravadoras”, diz ele. “E não é inédito encontrar um empresário cujo primeiro movimento ao trabalhar com um artista é colocá-lo em contato com um terapeuta ou life coach.”
“Estamos descobrindo o que podemos fazer para ajudar mais”, disse um porta-voz da Warner Music UK, acrescentando que a gravadora está em “um projeto experimental significativo” com especialistas independentes para fornecer suporte de saúde mental para artistas e funcionários. A Sony cita seu trabalho com a organização de saúde mental, Mind. “Agora, estamos nos concentrando no próximo nível de aconselhamento, recursos e orientação para o artista e suas equipes de gestão e famílias”, disse o presidente e CEO da Sony Music UK e Irlanda, Jason Iley. “Esta é uma mudança geracional. Saúde mental simplesmente não fazia parte do vocabulário da geração mais velha ”, diz Rhian Jones, autora de um livro chamado Sound Advice with Lucy Heyman, parcialmente financiado por gravadoras e empresas de eventos ao vivo (sem controle editorial) para oferecer uma espécie do manual para artistas que navegam na indústria da música. “A metáfora do ‘artista torturado’ existe há muito tempo, o que sugere que algum tipo de desequilíbrio mental é inerente à boa arte, mas há uma grande diferença entre um período temporário de dor emocional e uma doença contínua.”
Essa lenta virada dos rebentos das gravadoras é um sinal bem-vindo de mudança, mas as comunidades de base, como Girl & Repertoire e Scottish Women Inventing Music (Swim), pretendem oferecer apoio de forma mais imediata e independente, especialmente para mulheres e pessoas não binárias. “Acho que agora é o momento de realmente focar no tipo de nível inferior e começar a crescer e empurrá-los para cima, orientar e nutrir”, diz Halina Rifai, da Swim, a ideia sendo prevenção ao lado de cura.
Williams e Aquilina esperam corrigir décadas de supervisão. A primeira reunião delas ocorreu no Zoom, mas após a Covid, há planos para eventos de networking, arrecadação de fundos para oferecer subsídios e sempre um ouvido amigável disponível para suporte, aconselhamento e cuidados.“Senti que não devia falar com mais ninguém”, diz Aquilina sobre a sua experiência como artista de uma grande editora. “Eu deveria ficar em minha própria bolha e não conversar com outros [artistas] sobre o que estava acontecendo. E eu honestamente acho que teria mudado toda a minha vida ter algo assim."